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contos

🖕🏾 Nota de repúdio à Solidão

Maldita seja a Solidão que corrói e transcende o gênio, fruto de um menos dois. E não adianta chorar, gritar, nem se perder na sua cólera. A pestilenta não te deixa lembrar do chocolate meio derretido, diário. Muito menos das orgias gastronômicas pelos restaurantes da cidade. Não. Seu sintoma é uma amnésia seletiva, que faz questão de manter o gosto salgado na boca, eternizando o momento. Detestável momento. A desolação estampada na maquiagem escorrida. A doçura do derradeiro toque tenro. Os lábios secos de sal, carregados de uma saudade que nem chegou. Foi o último, sim. E você sabe disso, porque ela não te deixa esquecer.

Essa Solidão vai além do “sinto sua falta”. Isso, por sua vez, não é nem um problema, sequer. Foda mesmo é o vazio que esse sentimento traz, deixa de ser Um e passa pro Não Ser. Imperceptível ao olho alheio, talvez. Mas cruel como uma estaca de gelo no peito.

É de morrer, mesmo. Esmagado. Com o peso do mundo nos lábios.

Pois declaro luto, então, a nós e aos outros sentimentais que se foram em um beijo. Que os vermes da amargura não lhe comam as entranhas.