👨🏽‍🚀 wil fernandes guru de nada • ele/dele
contos

👩🏽‍🎨 Inevitável é a Cor de Ela

Estava ali, o corpo desfalecido no sofá, produto de um extremo final de semana anterior, regado a muita cachaça e lábios colados em boca desconhecida, salivando aflição ébria por vestígios da que conhecia bem. Os dedos rabiscavam a tela do celular, num empenho infrutífero de decidir o que pedir no iFood. "Foda-se, mano! Bora sair pra comer", largou de sobressalto, com um tapa na coxa do amigo rateando o marasmo que pairava sobre o ambiente. "Bora então, porra", devolveu o comparsa lançando o esqueleto para fora do vórtice letárgico que se tornara o recinto.

Sentaram-se no Bar do Plínio, a fim de afogarem a solidão no melhor peixe assado da Zona Norte. "Perdi a conta de quantas vezes vim aqui com ela". A frase escapara do jovem como um sopro preso em suas entranhas, levando-o a jogar a cabeça para trás, a fim de renovar os pulmões com ar e desalento. O amigo defronte acenou em silêncio, com os lábios contraídos, incentivando-o a abrir a porteira da fossa com o agasalho da sua atenção. "Cara, preciso encontrar novos lugares... tudo me lembra ela nessa caralha", desabafou exasperado, desfilando o braço agitado a apontar para toda a extensão da rua.

"É, mano... Você pintou a cidade de Ela. Demora, mas passa."